“Se até hoje Brasília pode ser considerada uma cidade jovem, na virada dos anos 1980 para os 1990, ainda era uma adolescente em busca de afirmação. Ápice do modernismo no mundo, a nova capital e cidade do futuro tinha edificações em sua maioria caracterizada por blocos racionais de expressão coletiva. Dessa maneira, os destaques estavam restritos aos edifícios ícones, a maioria públicos ou institucionais, e sempre valorizados.
Em um movimento contrário ao de oferecer “mais do mesmo”, observado em grande parte dos projetos que se dissociavam da evolução natural da sociedade, a Dávila personalizou as projeções residenciais, conferindo portanto uma identidade a cada edifício. Um dos recursos utilizados, considerando os longuíssimos blocos admitidos pela legislação, com até seis pavimentos e 100 metros de comprimento (o equivalente a uma quadra inteira em cidades mais convencionais) foi a de modular esses gigantes em unidades com escala mais humana. Assim, aliviamos a horizontalidade que, por vezes, parecia opressiva.
Blocos residenciais
Além disso, outro recurso introduzido pela Dávila foi o de trabalhar a identidade das extremidades dos blocos. Anteriormente tratados de maneira secundária, estas extremidades estão sempre muito visíveis nas quadras residenciais. Entendemos que deveríamos valorizá-las de forma a contribuir com a diferenciação dos edifícios. Vários projetos daqueles tempos representam bem essas soluções que imprimiram identidade aos blocos residenciais. Isso facilitou a identificação dos moradores com suas casas, bem como a ventilação da riqueza arquitetônica da cidade como um todo.
Mesmo nos edifícios verticais localizados nos setores da cidade que admitem tal uso, a experiência da Dávila foi significativa. Um exemplo é o Centro Empresarial Norte, edifício que abriga a sede do nosso escritório em Brasília. A partir de duas projeções (lotes) próximas a proposta arquitetônica criou uma unidade entre elas, através de um arco que liga os dois edifícios. Um visual marcante e facilmente identificável na cidade. Uma grande praça interna, espaço urbano ainda pouco comum na capital, arrematou de forma gentil com a cidade esta interconexão entre projeções.
Ousadia nos projetos hoteleiros
Também é representativo na história da Dávila o grande volume de edifícios hoteleiros projetados. Em comum, uma intensa variação volumétrica capaz de criar texturas que dinamizam as construções à medida que elas alcançam seu topo. Entre os exemplos, os já clássicos hoteis Bonaparte, Lider Flat e Brasil XXI. Este último merece destaque por sua complexidade e ousadia. Ao integrar equipamentos de lazer, estadia e de promoção de eventos em um mesmo complexo, o Brasil XXI tornou-se referência para outros empreendimentos na cidade. Por isso, até hoje mantém sua contemporaneidade e relevância.
Nas décadas seguintes, a Dávila continuou inovando em cada empreendimento projetado em Brasília. Até hoje, a cada novo contrato o escritório oferece soluções únicas para a arquitetura da capital que ajudou a amadurecer. Ao mesmo tempo em que respeita o legado modernista da cidade-monumento mundial, o escritório promove e valoriza este legado, projetando-o para o futuro. Com este olhar entre o respeito e a inovação, a Dávila estabelece um diálogo contemporâneo que tem tudo a ver com o que o modernismo, um dia, pretendeu nos oferecer.